Os cata-ventos oportunistas têm memória curta e, por conveniência, sofrem de amnésia selectiva. Ainda não há muito tempo, em Agosto de 2016, no congresso do MPLA, José Eduardo dos Santos recebeu uma aprovação de 99.6% pelas suas políticas, atitudes, comportamentos e visão para o país.
Por Domingos Kambunji
Nada mais, nada menos: 99.6%! Dizem que a polícia secreta estava bastante decidida a investigar quem foram os 0.4% de traidores que não apoiaram o “Querido Líder”, o “Arquitecto da Paz”, o “Grande Mártir” que se “sacrificou” a estar no poder quase quarto décadas, o “Grande Visionário” que catapultou o país para os caminhos da modernidade, através da diversificação económica. O “Pai da Nação”…
Os 99.6% de kapangas do MPLA não foram parcos em elogios bajuladores.
Decorridos quatro meses, a grande maioria dos kapangas do MPLA mudou de discurso e o alvo das atenções e bajulações mudou de azimute, orientam-se agora para João Lourenço. O “novo” presidente passou a ser o “Querido Líder”, o “Arquitecto do Desenvolvimento”, o “Herói da Democracia”, o “Grande Visionário” capaz de catapultar o país para os caminhos da modernidade, através da diversificação económica, o “Pai da Nação”, o “Exonerador Salvador”…
José Eduardo dos Santos passou a ser o Velho, o inútil, o corrupto, o incompetente, o vigarista, o nepotista… Os seus filhos deixaram de ser os muito inteligentes, os grandes empresários, e passarem a ser os “músicos das cantigas do vigário”, os ladrões, os traidores à Pátria, os principais responsáveis pela “cleptofilia” na “Re(i)publicana Monarquia”.
Os adjectivos que endeusavam José Eduardo dos Santos passaram a ser utilizados para glorificarem João Lourenço. As “grandes virtudes” de José Eduardo dos Santos passaram a ser as grandes esperanças em João Lourenço.
Entretanto, naquilo que alguns militantes do MPLA classificam como “liberdade de informação”, os órgãos oficiais do MPLA, JA, TPA e RNA, passaram a mostrar aos angolanos (que viviam na ilusão demagógica) que as estradas são más, os hospitais são maus, as escolas são fracas, as epidemias existem em Angola…
Tudo isto é uma estratégia para diminuir ao máximo os governos anteriores de José Eduardo dos Santos e posicionarem João Lourenço como o “Messias”, o “Iluminado”, o “Salvador da Nação”, o “Superman da África Austral”.
Daqui a talvez muito poucos anos iremos verificar se esta estratégia teve sucesso continuado. Temos bastantes dúvidas. Não tememos ser observadores atentos, mesmo para aqueles que nos acusam de fazer crítica não construtiva. Também aqui estaremos para elogiar os incrementos positivos na economia e na sociedade em geral.
Todavia, temos a certeza, daqui a três ou quatro anos, quando começarem a ser feitas as avaliações de performance, no Comité Central do MPLA, sabemos que a TPA irá anunciar que Angola possui as melhores escolas do continente, a RNA dirá que Angola já possui os melhores hospitais do hemisfério Sul e o Jornal de Angola informará, como fazia no tempo em José Ribeiro era director, que Angola possui as melhores e mais seguras estradas do planeta…
Se assim não acontecer, o JA, a TPA e a RNA acusarão João Lourenço daquilo que neste momento acusam José Eduardo dos Santos, quatro meses após ter obtido 99.6% de aprovação no Congresso do MPLA, e passarão a usar os adjectivos que utilizam para endeusar João Lourenço bajulando a visão do próximo “Querido Líder”.